A proteção das florestas não é uma mercadoria financeira! Não ao TFFF!
Na COP-30, realizada no Brasil, criou-se um fundo (TFFF) para financiar a proteção das florestas tropicais. Só que, em vez de combater as causas do desmatamento, o TFFF transforma a proteção da floresta em um produto financeiro. Enquanto investidores fazem lucro, os os povos originários saem de mãos abanando.
Notícias e AtualidadesPara: Conferência Mundial do Clima (COP-30) e Estados-Parte
“COP-30 no Brasil: É preciso rejeitar a criação do fundo TFFF. As florestas tropicais não são produto para especulação financeira.”Na Conferência Mundial do Clima (COP-30), que está sendo encerrada no dia 21.11.2025 em Belém, na Amazônia brasileira, a proteção da floresta tropical é um tema importante. Isso porque as florestas tropicais primárias são indispensáveis para o clima global, os ciclos hidrológicos, a biodiversidade e as gentes que nela vivem.
Sob a liderança brasileira, foi lançado na COP30 o Fundo Floresta Tropical para Sempre(TFFF). Cerca de 22 bilhões de euros, em recursos públicos, devem ser investidos nesse fundo.
O Brasil quer colocar quase 900 milhões de euros no fundo, também a Noruega, Indonésia e a França prometeram financiamento. O chanceler alemão, Friederich Merz, anunciou uma “soma considerável” para o TFFF.
Com as verbas públicas como garantia, investidores privados devem investir outros 86 bilhões de euros no TFFF. O capital deve ser investido preponderantemente em títulos da dívida pública de países do Sul Global.
Estes podem, por exemplo, pagar os juros relativos às suas asfixiantes “dívidas”, ou financiar projetos estatais de energia, infraestrutura, mineração ou agrários. Os títulos da dívida pública, com isso, possibilitam que sejam realizadas atividades que, em última análise, destroem florestas, arruinando o clima e as pessoas.
Os investidores privados devem receber a metade dos lucros auferidos com os títulos da dívida pública. A outra metade - estimada em cerca de 3,4 bilhões por ano, deve ser paga a países que protegeram as suas florestas. As comunidades indígenas e tradicionais das áreas com floresta tropical primária devem receber, por ano, um quinto (1/5) - o que corresponde a 0,80 EUR por hectare de floresta protegida.
Juntamente com a organização World Rainforest Movement (WRM), a Global Forest Coalition (GFC) e muitos povos originários, estamos nos opondo contra essa iniciativa. 240 organizações – dentre elas “Salve a Floresta” – reivindicam em uma Carta Aberta, que se pare já com o TFFF.
Começo da petição: 19/11/2025
TFFF é um mecanismo baseado no mercado. Por essa lógica, florestas tropicais prestam serviços de natureza ambiental, os quais tem um valor financeiro, pelo qual é possível pagar.
Em contrapartida, o fundo não reconhece a floresta primária como sistemo vivo e dotado de direitos próprios, como por exemplo, o direito à vida, à conservação de seus ciclos de vida e à capacidade de regeneração, bem como o direito à inviolabilidade e medidas de reparação.
Os dinheiros, neste caso, não serão gerados via mercado ou compensações de carbono (CO2-Offsets), mas sim pela via do mercado financeiro global. Está se falando de títulos da dívida pública, os quais, por exemplo, seriam emitidos por países do Sul Global. Com esse dinheiro, esses países poderiam investir em grandes projetos de infraestrutura e energia, ou em outras atividades na floresta tropical e assim, destruir a natureza.
Por trás das belas palavras, portanto, esconde-se uma proposta cujo objetivo é enriquecer ainda mais investidores ricos às custas do povo que vive nos países do Sul Global, os quais sofrem por conta da insuportável e ilegítima dívida de seus países.
74 países em torno do Equador, bem como a China, estão previstos para receber financiamento via TFFF. Os paises envolvidos devem enviar os respectivos relatórios à Presidência do Fundo, e o desenvolvimento da floresta tropical deverá ser monitorado via satélite.
Financiamento por TFFF
O Fundo TFFF deve ser guarnecido com cerca de EUR 108 bilhões (USD 125 bilhões), dos quais os países participantes vão subscrever EUR 22 bilhões (USD 25 bilhões), em dinheiro público. As verbas públicas deverão servir como garantia, para assim, atrair investidores aptos para colocar dinheiro no fundo.
O dinheiro, então, vai servir para financiar os títulos da dívida pública emitidos pelos países do Sul Global no mercado financeiro. O dinheiro assim investido tem por objetivo proporcionar um lucro estimado na ordem de 7%, o qual, contudo, de forma nenhuma está garantido. Se a demanda por esses títulos da dívida pública for menor do que a esperada, pode até ser que o dinheiro investido seja completamente perdido.
Com os recursos obtidos pela venda dos títulos, os países do Sul Global poderiam, por exemplo, financiar a construção de grandes projetos de infraestrutura e de energia, o que colocaria ainda mais em risco a floresta tropical e seus habitantes.
Com os juros, deverão ser pagos, em primeiro lugar, a fração fixa de 3% para os investidores privados. A renda remanescente de cerca de 4% deve ser transferida aos governos dos países com florestas tropicais. Pressuposto para isso é que a taxa anual de desmatamento desses países seja inferior a 0,5%
Traduzindo em números, isso significa o seguinte: Ao todo, o fundo TFFF deverá gerar, anualmente, cerca de 3,5 bilhões de euros (4 bilhões de dólares americanos), os quais, por sua vez, deverão financiar a proteção de cerca de dez milhões de km2 (1 bilhão de hectares) de floresta tropical. Fazendo as contas, isso significa que para cada hectare de floresta, serão pagos cerca de EUR 3,50 (USD 4).
E dessa soma, por sua vez, o povo que vive em florestas tropicais deverá receber, anualmente, a fração de 1/5, o que, fazendo as contas, resulta em cerca de 700 milhões de euros (800 milhões de dólares). Por hectare - ou seja, 10.000 km2 - isso corresponde a EUR 0,80. Isso significa que eles não receberao sequer 1 centavo por 100 m2 de floresta tropical por ano.
Já os países cuja taxa de desmatamento superar 0,5% terão de pagar uma multa de USD 140 para cada hectare desmatado.
Informações adicionais:
- World Rainforest Movement, 17.11.2025. Press release: Organizations around the world are demanding a halt to the Tropical Forests Forever Facility (TFFF): https://www.wrm.org.uy/node/20792
- Global Forest Coalition, 17.11.2025. The Tables Turn Against the TFFF: https://globalforestcoalition.org/the-tables-turn-against-the-tfff/
- Rettet den Regenwald e.V., 10.11.2025. A proteção das florestas não é uma mercadoria financeira!: https://www.salveafloresta.org/atualizacoes/14584/a-protecao-das-florestas-nao-e-uma-mercadoria-financeirat
- Asamblea Mundial Amazonia, Nov. 2025. NO to TFFF, YES to Forest Rights: https://asambleamundialamazonia.org/2025/11/07/no-to-tfff-yes-to-forest-rights/
World Rainforest Movement, 15.10.2025. TFFF: A new trap for peoples and forests in the Global South: https://www.wrm.org.uy/publications/tfff-a-new-trap-for-peoples-and-forests-in-the-global-south
Para: Conferência Mundial do Clima (COP-30) e Estados-Parte
Exmas. Sras. e Sres.,
Nós rejeitamos o Fundo Floresta Tropical para Sempre (TFFF), lançado pela COP-30, porque este vai contribuir ainda mais para o agravamento dos problemas nas regiões com floresta tropical.
Em vez de combater as causas do desmatamento, como roubo de terras, monoculturas agrárias, derrubadas e mineração, o TFFF transforma a proteção da floresta tropical em um produto financeiro, inclusive criando estímulos baseados no mercado.
Enquanto investidores e banqueiros saem ganhando, os povos indígenas e as comunidades locais - que são os verdadeiros zeladores e preservadores da floresta -saem de mãos abanando. Eles não participaram da concepção do TFFF. Do mesmo modo, o TFFF também não reconhece os direitos da natureza e da floresta tropical.
O TFFF é um plano colonialista, o qual vai fazer com que os ricos fiquem mais ricos, explorando o Sul Global. Esse fundo ainda fortalece a vigente ordem mundial, com sua natureza capitalista, racista, colonialista e patriarcal, o qual vai agravar ainda mais as atuais injustiças e crises múltiplas.
Mais de 240 organizações e povos indígenas rejeitam o TFFF pelos motivos acima. Eles reivindicam, em vez disso, que sejam tomadas medidas, financiadas pelos Estados, cujos objetivos sejam os seguintes: 1) combater as causas do desmatamento; 2) reflorestar áreas desmatadas; 3) reconhecer os direitos das comunidades indígenas e locais, fazendo com que estes preponderem sobre outros direitos, bem como garantir os direitos da natureza.
Cordialmente
O Ministro do Meio-Ambiente da Alemanha, Carsten Schneider, confirmou junto ao Presidente Lula, em 19.11.25, que a Alemanha disponibilizaria, no total, 1 bilhão de euros. O montante não seria um crédito: "Estamos dando dinheiro". O governo não teria nenhum objetivo de "obter rendmentos". Antes disso o chanceler Friedrich Merz teria profetizado que a Alemanha contribuiria com uma "soma significativa".
COP30-Secretaria do Governo Federal do Brasil, 23.9.2025. Tropical Forests Forever Facility (TFFF) proposes innovative financing model for conservation: https://cop30.br/en/news-about-cop30/tropical-forests-forever-facility-tfff-proposes-innovative-financing-model-for-conservation
Um hectare corresponde a 10.000 m². Isto significa que, para cada 100 m² de floresta tropical que for conservada, por ano, deverão ser pagos menos do que EUR 0,80 por hectare.
World Rainforest Movement, 21.10.2025. Sign this statement to STOP the TFFF now!: https://www.wrm.org.uy/node/20790
COP30-Secretaria do Governo Federal do Brasil, 23.9.2025. Tropical Forests Forever Facility (TFFF) proposes innovative financing model for conservation: https://cop30.br/en/news-about-cop30/tropical-forests-forever-facility-tfff-proposes-innovative-financing-model-for-conservation