Comunidades camponesas se defenden frente ao agronegócio exportador
A partir de processos formativos, defesa jurídica, mapeamentos, apoio a processos produtivos agroflorestais, ações e campanhas de comunicação em defesa de direitos socioambientais e denúncias de violações, a CPT Maranhão fortalece povos e comunidades tradicionais auxiliando na criação de ferramentas de autonomia e resistência para a busca de justiça e acesso à terra e ao território.
Visão geral do projeto
Tema do projetoHabitats
Objetivo do projeto Proteção do Cerrado contra o desmatamento e segurança do direito à terra
Atividades Trabalho informativo em comunidades e assessoria jurídica
Durante reunião com mais de uma dezena de camponesas e camponeses em seu território tradicional na zona rural do município de Timbiras, no Maranhão, uma agente da Comissão Pastoral da Terra, a CPT, apresenta um mapa com os limites da terra centenária daquele povo. Dentro do mapa há uma informação importante: um fazendeiro que se diz dono de parte do território pretende desmatar uma grande área para criar bois, e a área ameaçada foi sinalizada no mapa em vermelho, como sinal de alerta.
"Eu trouxe o mapa para mostrar a vocês que existe uma sobreposição de área em relação ao documento que aquele homem tem e diz que é dono dessa terra. Mas vocês desconhecem que ele seja proprietário, não é?", perguntou a agente da CPT aos presentes na reunião. "Nunca vimos nada dele lá dentro, nem ele mesmo! A gente não conhece ele nem como encarregado, muito menos como dono de terra", respondeu prontamente uma das camponesas. Ela e seus companheiros seguem lutando como seus antepassados, que viveram por quase um século naquelas terras, mas nunca conseguiram tê-las tituladas, já que grileiros e gestores públicos corruptos procuram expulsá-los de diversas formas para se apropriarem ilegalmente das terras que eles preservam.
Por meio de formações políticas sobre direitos socioambientais, de assistência jurídica na luta pela titulação da terra, de articulações entre comunidades, da produção coletiva de mapas georreferenciados, do apoio a processos produtivos agroflorestais e de campanhas de comunicação e denúncias de violações, a CPT Maranhão procura, junto às comunidades tradicionais, estimular a consciência crítica e criar ferramentas para a autonomia e organização dos povos nos seus territórios ancestrais.
Criada em 1975 no Brasil, em plena ditadura civil-militar, a Comissão Pastoral da Terra iniciou seus trabalhos no Maranhão dois anos depois, como resposta à situação de exploração e expropriação vivida por trabalhadores rurais e posseiros expulsos de suas terras por grileiros e latifundiários.
O contexto social do Maranhão àquela época não era muito diferente do de hoje: grandes extensões de terras nos biomas Amazônia e Cerrado foram e ainda são devastadas por latifundiários pertencentes às oligarquias locais para a criação de gado e monocultivos de grãos. Timbiras, Coroatá, Codó e outros municípios mais ao leste e ao sul do Cerrado maranhense são alguns dos que estão na mira destes latifundiários, que forjam documentos ilegais de posse das terras para tomá-las dos camponeses.
Apesar de receber pouca atenção da mídia em geral, o Cerrado é um bioma fundamental, inclusive, para a existência da Amazônia.
O Cerrado é a segunda maior região ecológica da América do Sul e a savana mais biodiversa do planeta. Conhecido como "berço das águas", é no Cerrado que estão os dois principais aquíferos do Brasil - o Guarani e o Urucuia-Bambuí - e onde nascem importantes rios do Brasil e da América do Sul. Sem as águas e vegetação do Cerrado preservados pelos seus povos, não há Amazônia.
Apoio à CPT Maranhão
A parceria entre a Salve a Floresta e a CPT Maranhão começou em 2020, com apoio a projetos contínuos de assessoria jurídica, processos formativos, mapeamentos coletivos, oficinas de comunicação para defesa dos territórios e articulação de comunidades tradicionais camponesas em diferentes municípios, como Timbiras, Aldeias Altas e Pirapemas, todos afetados pelo avanço do monocultivo de soja e criação de gado para exportação.
"A parceria com a Salve a Floresta tem sido de suma importância. Os mapas produzidos subsidiam os advogados na defesa das comunidades impactadas por ações de reintegração de posse movidas pelos grileiros. São mais de 300 famílias, cerca de mil pessoas, apoiadas pela parceria. A construção de mapas coletivos pelos camponeses envolvem e integram jovens, crianças, mulheres e idosos, que se articulam em defesa da casa comum e de bens inegociáveis, como a terra e a água. Como dizem os homens e mulheres do campo: estamos em luta e de pé!", finaliza a agente da Comissão Pastoral da Terra.
Se quiser dar suporte aos povos e comunidades tradicionais com os quais a CPT Maranhão trabalha em conjunto, acesse "doações" na área Proteger a Floresta.