“O eucalipto está matando a nossa terra indígena!”

Floresta tropical sufocada por monocultura de eucaliptos O que sobrou da floresta tropical: Ilhota de árvores medindo 30x30 m, no meio de uma gigantesca monocultura de eucalipto na Bahia (© Fábio Nascimento, filme "Mata", produção Boituí Cinema) Queixadas na floresta O animal que abre caminhos pela floresta – é assim que os indígenas denominam os queixadas (© votormarigo/shutterstock.com) O tatu-mirim O tatu-mirim vive em gramíneas e florestas na parte oriental da América do Sul (© Ernesto Fernandez Polcuch/ CC BY-NC 4.0) Um chauá em um galho A população de chauás da Mata Atlântica caiu drasticamente (© Sylvio Adalberto/CC BY-NC 4.0)

24 de out. de 2024

Também na América do Sul a monocultura do eucalipto vem se expandindo cada vez mais, às custas das gentes e da natureza. O Brasil é o maior fornecedor de celulose da Alemanha, para onde são exportadas 800 mil toneladas por ano.

Em filas infinitas, ereto e com 30 m de altura: é assim que os troncos de eucalipto se estendem sob o sol do sul da Bahia. Essas monoculturas de eucalipto já ocupam no Brasil cerca de 8 milhões de hectares de terra, só isso já é a metade do território da Áustria.

“Nessas plantações, não tem nenhum pássaro, não tem vestígio de animal algum, nem de um tatu ou paca, tampouco de um queixada. Essa plantação não tem a estrutura de uma floresta, ela é apenas o fantasma de uma floresta sem vida”, declara o líder pataxó Rodrigo Mãdi no documentário "Mata”, de Fábio Nascimento e Ingrid Fadnes.

Depois de apenas 7 anos já chegam as colheitadeiras. Em poucos segundos elas derrubam a árvores, desgalham-nas e empilham os troncos, preparando para o transporte. Só o conglomerado Suzano, sozinho, é proprietário de 1,6 milhões de hectares desse tipo de deserto verde. Essa área é maior do que estado alemão da Turíngia. Com 11 milhões de toneladas de celulose processada a partir da madeira do eucalipto, a Suzano é a número 1 do mercado mundial. 

A árvore-Frankenstein da Suzano

FutureGene, uma firma subsidiária da Suzano, está trabalhando já há muitos anos em um projeto de eucalipto geneticamente modificado em laboratório. Em março de 2024, a firma obteve autorização para um tipo de eucalipto cuja madeira possui não apenas celulose, mas também um inseticida contra ataques de besouro, além de ser resistente contra o herbicida glifosato. Desse modo, esse veneno que destrói todas as plantas - menos a árvore de eucalipto geneticamente modificada - pode ser borrifado em toda a extensão da monocultura.

“Essa invasão colonial arrancou as árvores originárias da floresta tropical dos seus lugares, destruindo todo o equilíbrio ecológico. O eucalipto faz secar os lençóis freáticos, matando os solos. Não tem mais húmus, não tem mais minhoca, não tem mais inseto, não tem mais vivente algum. Onde se planta eucalipto, a terra morre“, diz Rodrigo Mãdy. 

As terras indígenas, muito frequentemente, não são reconhecidas
Poucos séculos atrás, a Mata Atlântica cobria partes extensas da costa brasileira até as profundezas do sertão. Mas hoje o ecossistema não é nada mais do que uma colcha de retalhos - tudo derrubado em prol da agricultura, urbanização e monoculturas de eucalipto. No sul da Bahia, sobraram apenas 4% de floresta.

Também a terra ancestral dos povos originários lá viventes foi mutilada e roubada. Povos indígenas, tais como os pataxó, os tupiniquins e os tuxá, lutam pelo reconhecimento de seus direitos constitucionalmente garantidos. Contudo, o poder dos latifundiários, da indústria agrária, madeireira e da mineração, com seus tentáculos, é suficiente para alcançar a política e as autoridades brasileiras em suas profundezas. Assim, esses direitos à terra frequentemente acabam não reconhecidos, ou os processos vão se estendendo a mais não poder, ficando simplesmente sem serem decididos.

“Ao deixar de demarcar as nossas terras, os poderosos sinalizam que vale a pena se apoderar de terras indígenas, ou matar terras indígenas”, diz Agnaldo Pataxó. “E tudo que eles fazem contra nós fica sem punição”, continua o líder.

Os povos originários ocupam as monoculturas de eucalipto instaladas em suas terras, derrubam-nas e plantam em seu lugar árvores frutíferas e árvores nativas da floresta. Essas reconquistas são ações de protesto cujo fim é delimitar os seus territórios, bem como são um meio de fazer pressão junto ao governo para que seus direitos à terra sejam finalmente legalizados.

Enquanto tribunais internacionais estão reclamando a proteção dos indígenas
latifundiários estão organizando, volta e meia, arrastões que tomam de assalto as terras indígneas, ameaçando, perseguindo e matando as pessoas que lá vivem.  Não raro, tais latifundiários são apoiados pela polícia. Em 2023, segundo o Conselho Indigenista Missionário (CIMI), foram mortos ou assassinados 225 indígenas no contexto desses conflitos territoriais no Brasil.

Os pataxós já ajuizaram numerosas ações contra o Estado não só perante tribunais brasileiros, mas também perante a Comissão Interamericana de Direitos Humanos em Washington e junto às Nações Unidas, em Genebra. Este, aliás, deu razão para os pataxó, solicitando que o Brasil tome medidas imediatas para a proteção desse povo.

Na Bahia, “Salve a Floresta” vem apoiando a Rede Teia dos Povos, a qual une grupos distintos, dando-lhes, assim, uma voz.

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