Brasil, nordeste do Pará: indígenas Tembé e Turiwara sob ataque de palmicultores

Mais de 15 pessoas indígenas, entre mulheres e homens, aparecem de costas, em pé, em uma estrada de terra. Estão conversando com seguranças privados da empresa Agropalma, que impedem sua passagem Indígenas Turiwara e Tembé durante uma retomada de terras ancestrais das mãos da empresa Agropalma (© ASSOCIAÇÃO INDÍGENA ITA PEW DO ALTO ACARÁ) A foto é composta por duas imagens diferentes. À esquerda da foto, um bloqueio feito com arame farpado impede a passagem por uma estrada de terra. À direita, três homens em pé, uniformizados e com coletes de segurança, encaram a câmera. À esquerda, arame farpado (concertinas) altamente controverso, devido aos ferimentos graves que pode causar. À direita, seguranças privados da empresa. (© ASSOCIAÇÃO INDÍGENA ITA PEW DO ALTO ACARÁ)

11 de set. de 2024

Seguranças privados da empresa Agropalma avançam contra famílias indígenas que retomaram território ancestral invadido pelos cultivos de dendê da empresa. Os seguranças tomaram alimentos e água das famílias, e instalaram armadilhas no entorno da retomada.

Desde o dia 20 de agosto, membros de 89 famílias indígenas da comunidade Turiwara Ita Pew do Alto Rio Acará, adultos, mulheres, idosos e crianças, entraram a pé e retomaram o território interétnico reivindicado por eles. Tratam-se de antigas aldeias indígenas dos Turiwara e Tembé, como a chamada Itapeua. Segundo relatos dos povos, esse território foi objeto de usurpação por parte da empresa Agropalma. Afirmam ainda que foram expulsos do território com base na violência e na pistolagem. 

É nesse contexto que os seguranças da empresa Agropalma estão atacando e encurralando os indígenas de diversas formas. No dia 21 de agosto subtraíram dos acampados seus alimentos e água. Além disso, cercaram a área retomada e instalaram armadilhas cortantes para evitar o acesso dos acampados, que também foram proibidos de usar o Rio Acará para se deslocar de um lugar a outro.

 

Em um ataque violento contra as famílias indígenas, os seguranças da Agropalma usaram gás lacrimogêneo e bombas de efeito moral. Uma criança foi atingida por partes do armamento utilizado.

O povo indígena Turiwara do Alto Acará busca proteção e justiça nas questões relativas ao reconhecimento de sua existência, identidade social e território. Diante da morosidade e inação do Estado para garantir o reconhecimento do seu direito à terra e ao território, a retomada de terras ancestrais, portanto, é a única alternativa que o povo Turiwara encontra para poder sobreviver à situação de humilhação e dificuldades que atualmente enfrenta. 

Com base em informações enviadas pelos indígenas acampados e em testemunhos ouvidos durante visita em 2023 membros das entidades Salve a Floresta (Rettet den Regenwald e.V. de Alemanha), World Rainforest Movement (WRM), Conselho Indigenista Missionário (CIMI) e Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional FASE, uma carta foi produzida e enviada a autoridades do governo federal e também da ONU solicitando medidas urgentes para evitar derramamento de sangue na região. O documento foi assinado pelas organizações mencionadas acima e também pela Comissão Pastoral da Terra (CPT) Norte 2 e pelo Projeto Nova Cartografia Social da Amazônia.

Segundo relatório de setembro de 2024 da Global Witness, sobre violências cometidas contra defensoras e defensores da terra e do meio ambiente, em 2023 foram assassinadas 196 pessoas nesse contexto. América Latina e Caribe são responsáveis por 85% desses números. A Colômbia ocupa o primeiro lugar, com 79 assassinatos; o Brasil, o segundo, com 25 mortes. O relatório da Global Witness destaca o nome do indígena do povo Turiwara Agnaldo da Silva Paz, assassinado precisamente em Tailândia em 10 de novembro de 2023, alegadamente por seguranças da Agropalma no contexto da retomada de um território ancestral invadido pela empresa.

Leia a carta aqui.



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