Bolsonaro perde a eleição: Estaria agora a Amazônia salva?
15 de nov. de 2022
Lula vai ser presidente do Brasil de novo; o atual presidente no cargo, Jair Bolsonaro, não conseguiu se reeleger. Nós perguntamos às nossas organizações parceiras no Brasil sobre o significado disso para elas, seu trabalho, para os povos originário e para a floresta.
No Brasil, o líder de esquerda Lula ganhou as eleições presidenciais, embora sua vitória sobre o atual Presidente de extrema direita, Jair Bolsonaro, tenha sido extremamente apertada.
Este último arremeteu o País em uma severa crise, semeando intolerância, ódio e violência. Durante o governo de Bolsonaro as taxas de desmatamento foram drasticamente para cima. Ele conclamou o povo a ocupar a Amazônia, explorando-a; ele reduziu áreas de proteção e liberou-os para a mineração, bem como interrompeu, por completo, o reconhecimento das terras indígenas.
A opinião pública internacional recebeu a notícia predominantemente de forma positiva e com isso, sobretudo, conectou-a à esperança de salvamento da Amazônia e do clima global. Lula já havia governado o Brasil de 2003 a 2010, ao longo de dois mandatos presidenciais. Ele não, é portanto, nenhuma folha em branco na liderança do país.
A pergunta, porém, é se a alta expectativa em torno de Lula é realista. Será que ele vai conseguir deter a espiral de destruição que assolou o Brasil, sendo que ele sequer possui maioria no Congresso Nacional?
As primeiras reações:
“Sentimo-nos aliviados, mesmo que o Brasil, agora, com Bolsonaro, esteja dividido. Agora é hora de se acalmar, pois a luta continua”, comenta a Comissão Pastoral da (CPT) do estado do Maranhão. O resultado das eleições é avaliado pela organização como a “vitória da democracia sobre o fascismo”.
Também a nossa organização parceira, “Xingu Vivo para Sempre” do estado do Pará está “aliviada”, embora ela lembre que "Lula foi o construtor da barragem de Belo Monte”, no âmbito de um gigantesco projeto de usina hidrelétrica na floresta, “o qual levou à fundação do Movimento Xingu Vivo para Sempre”.
Conseqüências da Presidência de Bolsonaro:
Como uma das piores conseqüências do governo de Bolsonaro o Forum Carajás salienta o “avanço da agroindústria” sobre a Amazônia.
Sobre isso, o Movimento Xingu Vivo para Sempre declara que “instituições estatais, como o IBAMA - autarquia federal responsável pelo meio-ambiente e recursos naturais, a FUNAI e o INCRA - cuja tarefa era proteger as comunidades tradicionais e os povos originários, foram usados durante o governo Bolsonaro como instrumentos para a liquidação. Esperamos que, com Lula, isto mude logo.”
A CPT enumera aspectos éticos como estando entre as piores conseqüências do governo Bolsonaro, como o “escárnio de centenas de milhares dos mortos que não sobreviveram à pandemia do coronavírus, a desumanidade e violação da dignidade das pessoas por Jair Bolsonaro, seu machismo e misoginia, bem como sua agenda ultrarreligiosa, a violência sistêmica e o armamento da sociedade, o assassinato de líderes indígenas e de ativistas de direitos humanos.”
Como as coisas continuarão, sob Lula?
Do novo governo, a CPT espera a “reinvenção do Brasil”, bem como “o combate à violência contra defensores dos direitos humanos, o reconhecimento dos direitos dos povos originários e a legalização das áreas que, tradicionalmente, são ocupadas por um sem-número de pequenos lavradores”.
Para a CPT, estão incluídas nos desafios “a reconstrução das instituições do Estado brasileiro, a luta contra a violência e a proteção da democracia e da Amazônia”.
“Lula vai continuar defendendo projetos desenvolvimentistas como Belo Monte e já declarou publicamente que seu governo vai investir em infraestrutura, vale dizer, na construção de rodovias, ferrovias e portos para a promoção de matérias-primas, bem como sobre a expansão da produção”, declara o Xingu Vivo para Sempre.” “Ele defende os mercados de carbono, bem como outros mecanismos da economia verde, os quais nós julgamos falsos”.
O Fórum Carajás deseja o “retorno à normalidade” e vê como um “dos maiores desafios que as pessoas não acreditem que a luta acabou e que tenhamos chegado ao paraíso.”