A floresta está chorando a morte de Sarapo Ka'apor
26 de mai. de 2022
Sarapo, o líder do povo indígena Ka'apor, morreu no Brasil. As causas e circunstâncias de sua morte ainda não estão esclarecidas. Os Ka'apor receiam que seu líder possa ter sido envenenado. Eles estão reivindicando das autoridades que as causas de sua morte sejam esclarecidas.
“Sarapo Ka'apor não resistiu à pressão e às ameaças dos agressores na região”, escreveram os indígenas em nome do conselho de gestão Ka'apor TUXA TA PAME que os representa.
No dia 14 de maio de 2022, morreu Sarapo Ka'apor, aos 45 anos de idade. Ele vivia em uma área protegida, a qual empresas mineradoras querem destruir para poder extrair ouro. Sarapo era a principal liderança na proteção das florestas da região e estava à frente da oposição contra a mineração. Por isso, ele foi perseguido e ameaçado.
Os Ka'apor relataram às autoridades brasileiras as circunstâncias não esclarecidas da morte de seu líder e estão reivindicando do Ministério Público, juntamente com a Sociedade Maranhense de Direitos Humanos (SMDH), a exumação de seu corpo, para que as causas exatas de sua morte sejam esclarecidas por médicos legistas.
“Nós tememos que pessoas influentes tenham encomendado serviço de matadores para envenenar Sarapo”, escreveram os Ka'apor. Nós estamos rodeados por garimpeiros e mineradores, e somos pressionados por eles.”
Enquanto chefe da Guarda de Autodefesa dos Ka'apor, ele era vulnerável e estava sendo perseguido. Ele estava incluído em um programa de proteção estatal para pessoas ameaçadas no Brasil, juntamente com três outras lideranças Kaapor. Recentemente, em janeiro de 2022, ele tinha sido cercado por desmatadores, que o ameaçaram de morte.
“Nós estamos acompanhando tudo o que acontece aqui, e queremos justiça”. É o que dizem os Ka'apor. Entre os dias 13 e 15 de junho de 2022, eles pretendem fazer uma romaria pela proteção da floresta e em oposição à mineração.
“Salve a Floresta” apoia as reivindicações dos Ka'apor e reclama das autoridades brasileiras que estas tomem, de imediato, as medidas necessárias. As circunstâncias da morte de Sarapo Ka'apor precisam ser esclarecidas, assim como todos os outros crimes - assaltos e homicídios - cometidos contra os indígenas. Os executores do crime e seus mandantes precisam ser investigados e condenados. E os moradores das áreas protegidas precisam ser efetivamente protegidos contra outras ameaças.
Os moradores estão sendo fortemente ameaçados, estando expostos à extrema violência
Desde 2015, duas aldeias Ka'apor foram tomadas de assalto por desmatadores. Nos últimos anos, foram assassinados15 indígenas, no total, na região, em circunstâncias associadas a agressões contra o seu território. Nenhum desses crimes foi esclarecido pelas autoridades brasileiras. Até hoje, nem sequer um único criminoso foi punido.
Tudo isso acontece diante dos olhos dos funcionários públicos e das autoridades brasileiras, as quais são, em grande parte, inertes, na medida em que ignoram as queixas e reivindicações dos povos originários do Brasil. Ademais, muitos funcionários públicos e políticos são corruptos e estão envolvidos nessas atividades.
As autoridades brasileiras outorgaram a diversas firmas concessões de mineração para extração de ouro em milhares de hectares de terra. As minas objeto dessas concessões encontram-se diretamente no limite e em parte, chegam até mesmo a atingir o interior do território indígena.
Os Ka'apor defendem o seu território
Os Ka'apor - cuja população é composta por cerca de 1800 pessoas - são um dos 300 povos indígenas do Brasil. Hoje em dia, eles vivem no Território Alto Turiaçu - o qual é reconhecido e demarcado pelo Estado como território indígena - no estado do Maranhão. A área de floresta originária por eles ocupada - 531 mil hectares, o que equivale a cinco vezes à área da cidade de São Paulo - destaca-se como uma ilha verde envolta por um mar de destruição.
Os Ka'apor, por conta de seus modos de viver, conseguiram conservar seu território até hoje contra invasores e saqueadores, bem como defender a floresta contra o desmatamento. Madeireiras, mineradoras, pecuaristas, latifundiários e especuladores imobiliários já desmataram a floresta tropical praticamente por completo, ou seja, até a última borda da área protegida. Agora, já não respeitam sequer os seus limites demarcados. Contudo, o território que hoje abriga os Ka'apor não é senão o mero resto de um território muito maior, o qual já foi roubado dos Ka'apor em décadas passadas.
Nessa região nordestina do Brasil, a floresta amazônica vai dando lugar, paulatinamente, às savanas tropicais do Cerrado. Essas condições especiais proporcionam habitat para um enorme número de animais e plantas. Algumas espécies em perigo, como o criticamente ameaçado macaco caiarara (Cebus kaapori) e o ameaçado cuxiú preto (Chiropotes satanas) tem no Alto Turiaçu um de seus últimos habitats.