Especialistas da ONU advertem: Salve-se o clima e a biodiversidade ao mesmo tempo
19 de ago. de 2021
Finalmente o tema da crise climática entrou na ordem do dia; a extinção em massa de espécies animais e vegetais, porém, continua sendo esquecida ou vista como menos urgente. Agora, pela primeira vez, especialistas da ONU advertem ser preciso lidar em conjunto com essas duas séries crises, em vez de tratá-las separadamente.
Nós, seres humanos, somos os responsáveis - por causa do nosso modo de vida - tanto pela crise climática como pela extinção de espécies. Cada uma dessas crises agrava a outra reciprocamente, já tendo levado alguns ecossistemas à beira do colapso. No entanto, embora as suas causas principais sejam as mesmas - queima de carvão, petróleo e gás natural, a destruição de habitats, a agricultura industrial, o consumo transbordante - as medidas tomadas, às vezes, são colidentes.
Assim é que os carros elétricos podem ser bons para o clima, pois, quando estão andando, não emitem CO2. Já a extração das matérias-primas, em especial para as baterias, causa imensos danos ambientais. Destruir florestas e estepes para transformá-las em monoculturas de palma de óleo, milho ou acácias em troca de biocombustíveis e pellets de madeira é uma catástrofe para a biodiversidade. Plantar árvores, geralmente, é bom para o clima, mas plantar a espécie errada no lugar errado pode trazer mais danos que proveitos.
Agora, pela primeira vez, mais de 50 cientistas do Painel Intergovernamental IPCC e do Conselho Mundial de Biodiversidade IPBES, apresentaram um documento conjunto.. Sua mensagem principal é a seguinte: a proteção do clima e da biodiversidade são essenciais, sendo necessário que elas sejam tratadas em conjunto. Medidas concebidas de modo estrito para lidar com a questão do clima, tem de ser analisadas de forma precisa, tendo em vista os efeitos indesejados que elas podem provocar. A proteção do clima não pode ser obtida em prejuízo da biodiversidade e vice-versa. Ao fazê-lo, é preciso também que sejam consideradas as consequências sociais para as populações indígenas.
O Presidente do Painel Intergovernamental do Clima, Dr. Hoesung Lee, diz o seguinte: “Tanto a mudança do clima como a perda da diversidade biológica ameaçam a sociedade - frequentemente, elas se intensificam e se aceleram reciprocamente.”
“As terras e os oceanos já prestam um grande serviço para a proteção do clima - eles absorvem quase 50% das emissões humanas de CO2 - mas a natureza não dá conta de resolver tudo sozinha”, diz Ana María Hernández Salgar, Presidente do IPBES: “Nós precisamos de mudanças fundamentais em todas as partes da sociedade e da economia, para o fim de estabilizar o clima, deter a perda de biodiversidade e nos encaminharmos para o desejado futuro sustentável. Isto exige que lidemos com ambas as crises ao mesmo tempo e de modo harmônico.
Os especialistas citam em seu Relatório exemplos de como a proteção ao clima e à biodiversidade podem andar de mãos dadas. Sempre que ecossistemas ricos em espécies e em carbono são protegidos ou recuperados, isto vincula mais CO2 e impede, ao mesmo, que o metano escape. Ao mesmo tempo, pântanos, zonas úmidas e manguezais proporcionam um habitat a numerosos seres vivos.
Em áreas protegidas - especialmente quando elas são administradas por povos indígenas -.os cientistas veem uma chave para a proteção da biodiversidade, o que, até agora, foi implementado de forma hesitante demais. Em conseqüência, eles apoiam o objetivo de colocar sob proteção 30 a 50% de territórios não congelados e áreas marítimas- As chamadas “nature-based solutions“, como engenharia florestal, não podem, em hipótese alguma, substituir ou atrasar a redução de emissão de gases de efeito estufa, tampouco podem se basear exclusivamente no armazenamento de CO2, sendo antes necessário que se considerem as necessidades da população local e dos povos indígenas.
O Relatório apela para cada que cada indivíduo e cada cidade comece a agir. “Toda iniciativa local tem um significado, porque os ganhos trazidos por muitas medidas pequenas e locais para proteger a biodiversidade somam-se àqueles cujos parâmetros são mundiais.” O Relatório também menciona mudanças nos hábitos alimentares e na reciclagem.